03 nov Limas endodônticas: principais modelos e funções
Vários instrumentos utilizados na odontologia, de um modo geral, também podem ser utilizados na endodontia, porém alguns instrumentos como as limas são destinados especificamente para essa área.
Muitos tipos diferentes de instrumentais endodônticos vem sendo desenvolvidos para serem manuseados dentro do canal radicular. Esses incluem instrumentos manuais, rotatórios e mecanizados para preparar os canais radiculares e também instrumentos para obturação.
Qual a origem das Limas Endodônticas
O preparo químico-mecânico é um conjunto de procedimentos químicos e mecânicos que se emprega para promover a limpeza e a desinfecção do canal radicular. Para isso, utilizam-se meios físicos e químicos, através da irrigação e aspiração e meios mecânicos, através da instrumentação.
No entanto, todas as limas são instrumentos que ampliam os canais através de movimentos de rotação ou tração contra as paredes do canal. As primeiras limas foram elaboradas pela Kerr Manufacturing Co. de Romulus, Michigan, no início do século XX, recebendo o nome de lima tipo K (lima K).
Fios com bases triangulares ou quadrangulares eram torcidos, aumentando o efeito cortante das bordas, produzindo um instrumento de formato piramidal.
Esse fio foi estabilizado em uma das pontas, e a outra ponta foi rodada para formar um instrumento em espiral. O número de lados e de espirais define quanto o instrumento é mais efetivo para instrumentar.
Inicialmente, os instrumentos endodônticos eram fabricados em aço de carbono, possuindo baixa resistência à fratura. Posteriormente, o uso de aço inoxidável melhorou a qualidade dos instrumentos, constituindo a maior parte deles.
E mais recente, houve a introdução da liga de níquel-titânio (NiTi) na fabricação de instrumentos endodônticos, o que mostrou considerável melhora na modelagem dos canais, em razão da sua maior flexibilidade e memória de forma, em comparação ao aço inoxidável.
Limas tipo K
As limas tipo K são os instrumentos mais antigos para cortar e remover dentina dos canais. Elas são feitas de aço inoxidável, com secção transversal quadrangular ou triangular. Os ângulos definidos pela secção transversal definem o ângulo de corte.
Desse modo, instrumentos com secção triangular têm um ângulo de corte de 60°. Em consequência, têm maior poder de corte que um instrumento com secção quadrangular, que possui um ângulo de 90°. Em resumo, quanto menor o ângulo de corte, maior a capacidade de corte do instrumento.
Dependendo de qual secção transversal a lima apresenta, também podemos ter maior ou menor flexibilidade. Um instrumento com secção triangular possui uma maior flexibilidade, já aqueles que apresentam secção quadrangular, por apresentarem uma maior quantidade de massa por milímetro de comprimento, são menos flexíveis.
Em se tratando de flexibilidade, instrumentos menos calibrosos são mais flexíveis e acompanham melhor a forma dos canais.
As cinemáticas mais empregadas durante o preparo dos canais, utilizando uma lima K, são os movimentos de alargamento (rotação) e de limagem (vaivém). Limas de aço inoxidável podem ser pré-curvadas para o formato desejado para facilitar a inserção e minimizar o risco de transporte do canal.
Mas, rotacionar um instrumento manual em um canal curvo pode ser arriscado, por isso, o movimento de rotação é mais indicado em canais retos.
Quando se observa uma deformação permanente no instrumento, ele não deve mais ser utilizado. Essa deformação ocorre quando as espirais da lima sofrem grande alteração ou ficam mais abertas.
Os instrumentos podem fraturar durante movimentos no sentido horário após a deformação plástica. Isso acontece quando o instrumento permanece travado, enquanto a força de rotação continua.
Embora a força necessária para a falha seja a mesma em ambas as direções de rotação, a falha ocorre no sentido anti-horário na metade do número de rotações exigidas para falha no sentido horário. Por isso, os instrumentos tipo K devem ser empregados com muita atenção quando a pressão é aplicada no sentido anti-horário.
Partes do Instrumento
Para utilizar as limas da melhor maneira possível, o cirurgião-dentista deve conhecer as partes de cada lima e entender as variações no formato que influenciam na instrumentação. As limas manuais são divididas em quatro partes: cabo, intermediário, parte ativa e ponta do instrumento.
O cabo apresenta um desenho relativo à forma da secção transversal da sua haste (quadrado ou triângulo) e um número relativo ao menor calibre da parte ativa do instrumento (junto à ponta). Esse número também pode ser identificado pela coloração do cabo.
O intermediário é o segmento entre o cabo e a parte ativa, não tem poder de corte e varia de tamanho de acordo com o comprimento do instrumento.
A parte ativa, ou laminar, é a parte mais importante do instrumento, tem como função principal cortar e remover dentina do canal e possui comprimento aproximado de 16 milímetros.
A ponta do instrumento, também chamado de guia de penetração, fica no extremo da parte ativa, tem forma de lança e deve apresentar um ângulo padrão de 75°, sendo aceitáveis variações de mais ou menos 15°.
A conicidade de uma lima é demonstrada como a medida do aumento do diâmetro em cada milímetro da parte ativa, desde a ponta do instrumento em direção ao cabo da lima.
Por exemplo, uma lima de numeração 15 com uma conicidade de 0,02 terá um diâmetro de 0,17 mm a 1 mm de distância da ponta, um diâmetro de 0,19 mm a 2 mm de distância da ponta e um diâmetro de 0,21 mm a 3 mm de distância da ponta. Alguns fabricantes indicam a conicidade em termos de porcentagem (conicidade de 0,02 é uma conicidade de 2%).
Como padrão ISO, uma lima manual convencional é classificada e padronizada com uma conicidade de 2% para uma superfície ativa de 16 mm de comprimento, mas hoje em dia as limas possuem uma ampla variação de comprimento e conicidades de superfície de trabalho.
Série, numeração e cor do cabo
A tabela abaixo mostra a relação entre o número, a cor do cabo e a série que o instrumento pertence:
Limas Rotatórias e Reciprocantes
Desde o início de 1990, inúmeros sistemas de instrumentos fabricados com níquel-titânio (NiTi) têm sido adotados na prática endodôntica. As características específicas variam, como: tamanho da ponta, conicidade, secção transversal e ângulo helicoidal.
Alguns dos primeiros sistemas foram removidos do mercado; outros, ainda são bem utilizados. Novos modelos são constantemente produzidos, mas é difícil prever quanto a evolução clínica, visto que cada novo sistema pode ter sua particularidade.
Os sistemas rotatórios geralmente se apresentam como uma sequência de limas que devem ser usadas na ordem determinada e realizam movimento rotacional completo dentro do canal. Já os sistemas reciprocantes usualmente são limas únicas, que mudam o sentido de rotação durante sua cinemática.
Esses dois tipos de sistemas não acionados por motores pneumáticos, entregando maior rapidez na execução da técnica.
Duas propriedades principais da liga de NiTi são de particular interesse na endodontia: superelasticidade e alta resistência à fadiga cíclica.
Essas duas características permitem que instrumentos rotatórios ou reciprocantes sejam continuamente utilizados em canais radiculares curvos.
Instrumentos mecanizados de NiTi têm diminuido consideravelmente a ocorrência de diversos problemas clínicos (como: obstruções, degraus, desvios, perfurações), mas acredita-se que eles também fraturem com mais facilidade que instrumentos manuais.
Esse fato não ocasiona doença pós-tratamento; apesar disso, um fragmento do instrumento limita o acesso da solução irrigadora ao sistema de canal radicular, possivelmente impedindo a eliminação adequada dos micro-organismos.
O ângulo de corte, o ângulo helicoidal e a conicidade podem variar ao longo da parte ativa nesses tipos de limas, e as taxas de variação podem não ser as mesmas entre instrumentos de um mesmo sistema.
Uma mudança em algum desses fatores pode interferir na efetividade da lima e a sua propensão à fratura durante sua ação no interior do canal radicular, o que pode explicar por que algumas limas agem fora de suas características, comparadas com outras limas da mesma série.
Conhecer o diâmetro da secção transversal em um determinado ponto de uma lima pode ajudar o cirurgião-dentista a determinar a largura da lima no ponto de curvatura e o estresse relativo que é empregado ao instrumento.
A partir disso, o profissional deve fazer um estudo dos sistemas do mercado e analisar qual se adapta melhor aos casos clínicos do consultório, visto que cada sistema possui sua particularidade e é mais indicado para determinadas situações.
Eficácia e Durabilidade dos Instrumentos
Embora as publicidades estejam cheias de informações sobre as várias formas de superioridade das configurações das limas, poucas informações podem ser observadas nas publicações científicas endodônticas.
Não há padrões para a eficácia e o poder de corte das limas endodônticas, nem são claras as condições necessárias sobre à resistência ao desgaste.
A elasticidade, deformação e fratura variam em instrumentos de mesma origem, dependendo do calibre e do movimento empregado. Em princípio, os instrumentos menos calibrosos demandam um menor esforço para que aconteça uma deformação permanente. Desse modo, distorcem ou fraturam mais facilmente do que os mais calibrosos.
A substituição dos instrumentos, mesmo dos mais novos, deve ser feita quando for observada qualquer modificação na sua forma. Dobra em ângulo vivo ou corrosão e distorção ou abertura das espirais da parte ativa, obrigam a renovação do instrumento de forma imediata.
Áreas de corrosão e oxidação, causadas pela ação de restos orgânicos e pelo uso de soluções irrigadoras, principalmente o hipoclorito de sódio, contribuem para a ocorrência de fratura. Além do mais, após algum tempo de uso, os instrumentais perdem o corte, diminuindo sua eficiência no preparo dos canais. Nesses casos, também devem ser desconsiderados.
Os instrumentos de série especial (06, 08 e 10) são considerados praticamente descartáveis, visto que sofrem deformação com bastante facilidade, desde o seu primeiro uso, sendo aconselhável realizar uma inspeção constante.
Importante salientar que o processo de esterilização também ocasiona alterações superficiais nos instrumentos, resultando em uma diminuição na capacidade de corte e na microdureza.
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